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Sobre a Mídia – Parte 1

maio 5, 2009

Texto por Guto Jimenez

Quanto mais eu vejo matérias e reportagens sobre skate na grande mídia, menos eu consigo entender uma coisa: qual é a enorme dificuldade que esses veículos têm em divulgar informações corretas?! Por que lhes é tão complicado em cumprir com o básico dos básicos de qualquer jornalista que se preze, que é passar com exatidão o que se passa?!

Muitos dizem que é assim porque os jornalistas não são skatistas, portanto não podem ter noção do que rola. Concordo em parte com esse argumento, pois reflete um axioma que aprendi ser verdadeiro ao longo dos anos – “skate: ande e entenda”. Não se pode explicar o que é andar de skate; afinal, nenhuma explicação é necessária pra quem anda, e nenhuma é possível pra quem não anda. Sendo assim, seria impossível a repórteres leigos de transmitirem o que é o carrinho na verdade, pois por mais que pesquisem, entrevistem e se informem, faltaria-lhes o básico que é a prática.

Ok, isso até explicaria a falta de noção sobre o espírito do skate. Mas não é isso que me incomoda, e confesso que até acho graça com os nomes de manobras que eles inventam… O que me tira do sério é a completa falta de noção e lógica naquilo que é escrito nos jornais e mostrado nas telas, e mais ainda o inacreditável festival de besteiras que são escritas, ditas e mostradas.

A mais recente transmissão do vert jam foi pródiga em asneiras e até teria sido cômica, se não tivesse sido trágica. Acompanhe alguns dos “melhores momentos”:
– Sandro não competiu por estar machucado. Ao invés do repórter fazer um rápido briefing com ele antes da entrevista, saiu perguntando se ele estaria ali pra ver o nível dos adversários. Escutou na lata: “não, eu já tinha outros compromissos profissionais da RED BULL no Rio”. Pra uma emissora que não permite nenhum tipo de merchandising, foi uma tremenda bola fora;
– e nem assim o “repiorter” se conformou. Todos sabiam da treta entre o Sandro e o Bob a respeito do título mundial – inclusive quem conduzia a entrevista. E não é que o cara ainda insistiu, querendo saber se Sandro iria torcer ou secar alguém?! Ouviu outra do Sandro, dessa vez com a cara amarrada: “Eu torço pelos meus amigos; quem não é meu amigo, nem merece a minha atenção.”
– assim que o Bob saiu do half, após ter errado o suficiente pra deixá-lo fora das finais, a repórter foi perguntá-lo se ele se sentia frustrado. O olhar que ele deu a ela, mais os 2 segundos que demorou pra se recompor e responder de maneira educada, valeram mais do que 1000 palavras;
– logo após o término da disputa, a mesma repórter foi perguntar ao Dan se ele estava “feliz”. Existe pergunta mais idiota a ser feita a um cara de 18 anos, recém-profissionalizado, que disputava o seu 1º evento pro numa etapa de circuito mundial?!

Isso acontece com a modalidade mais conhecida entre os telespectadores leigos, que é o vert. Em reportagens de outras modalidades, o desastre é muito maior.
– xgames, 2004 – ao explicar um dos obstáculos de street, o repórter falou que “isso aqui é uma simulação de uma escada na rua, com os corrimões (sic) dos dois lados”. Eu aprendi na escola que o plural de “mão” é “mãos”, e não “mões”…
– RDH (Rio Downhill), 2006 – um dos organizadores do evento, e portanto o cara que mais aparecia na mídia, Felipe Cobra levou um sério capote cavernoso numa das curvas, passando por cima do feno e caindo no meio da mata na Vista Chinesa. O cara é um “armário”, mas mesmo assim foi parar no hospital. Não é que foram perguntar a um dos competidores se eles estavam preparados pra isso?! Acho que pensaram que os caras estavam usando macacões de couro e capacetes em pleno verão carioca porque eram masoquistas e gostavam de sofrer, e não porque estariam “preparados” praquilo…
– GP Brasil de Slalom, 2007 – o repórter da BandSports me perguntou o que viria na competição de (repito) SLALOM após o pessoal ficar treinando com os cones. O que eu poderia ter feito além de rir?! Ainda quebrei o galho do cara, ao falar que aquela era a modalidade mais antiga do skate e que não era tão fácil quanto aparentava e tal – mas no fundo de minha mente, fiquei me perguntando de qual planeta o cara tinha vindo…
– Mundial de Freestyle, 2008 – a reportagem da emissora local fez a seguinte observação: “acontece em Santos o mundial de freestyle, uma categoria (sic) de skate no qual os competidores fazem tudo, menos andar de skate”. Sem comentários, por favor…

Vou quebrar o seu galho e te poupar dos absurdos que são vistos na imprensa escrita e via internet. Não vale a pena e acho que você já entendeu o que eu quis dizer.

Bem, nessa primeira parte do post, eu falei sobre a grande mídia. Dentro de alguns dias, abordarei a mídia especializada, que pode ser bastante precisa e cometer muito menos erros – mas que padece de uma falta de criatividade sem fim nos dias de hoje. Aguarde…

Confira outros textos do Guto em:

http://skateboardingmilitant.blogspot.com

http://jimenezine.blogspot.com